«Como se encontra o ponto de intersecção do intemporal com o tempo? Esta questão de Eliot é retomada por Rui Cóias, para quem o cruzamento da História com a paisagem sempre foi um tema decisivo. Os poemas de Europa tentam fazer "da memória a função do geógrafo", não separando as coordenadas espácio-temporais, o futuro e o passado, o fugaz e o permanente. A natureza é convocada de um modo que lembra a grande poesia romântica inglesa ou alemã: como uma viagem, uma peregrinação, uma presença, um caminho do pensamento, enquanto o "eu" atravessa campos, colinas, planícies, estepes, dunas, fragas, bosques. Há intensidades e augúrios, regressos impossíveis, e uma "gravitas" muitas vezes ligada a um "tu" e a um "nós", biográficos talvez. E às odes seguem-se as elegias, com uma temporalidade específica (a Grande Guerra, a experiência terrível de soldados‑poetas como Trakl ou Owen) e um espaço físico que é também uma ideia (o Ocidente, "puro horizonte", transformado em "terra nocturna"). Herdeira das antigas civilizações, das velhas cidades, a Europa desfaz-se nas trincheiras do Somme, unindo tragicamente o espaço e o tempo.» —Pedro Mexia
—Pedro Mexia