«Andar a par, perder da mão, entregar a quem, seguir para onde: estes 23 poemas, dedicados por um pai à sua filha, convocam todo o universo familiar e afectivo do sujeito poético, presentificando o passado e antecipando uma ideia de futuro. Encontramos nesta sequência a angústia urbana, o mundo torpe, o desânimo que parece insuperável; mas também a quase inocência de férias e ócios em pinhais e areais, pequenas epopeias, vislumbres de uma vita nuova. José Ricardo Nunes procura a palavra adequada mas debate-se com o espectro da inadequação. Escolhe por vezes um registo narrativo, outras vezes ensaia odes meditativas, canções líricas mas suspicazes, anotações prosaicas mas elípticas. Em todos os casos, «Andar a Par» faz perguntas desconfortáveis sobre a fuga ao cinismo, a utilidade da literatura e o porquê das coisas. Herberto despediu-se dizendo: «filhos não te são nada, carne da tua carne são os poemas»; mas que verdade tem um verso terrível como esse? E que verdade têm outros, aqui citados, de Ruy Belo e de Cesariny, passando pela carta de Jorge de Sena a seus filhos?» — Pedro Mexia
— Pedro Mexia